Cheia de Restos
"Eu sou exagero. E todo mundo sabe disso no mesmo instante que me conhece. Meu riso é escândalo, meu choro é soluço. Silêncio é abismo dentro de mim. Não sou de metades, de meias verdades, de poucas palavras. Chego e falo, pelos lábios ou pelos olhos.
Muitas vezes pelas caras.
... Minha confusão não nasce em mim, mas em quem não me traz segurança. Quem não gera confiança me tira do foco, me enche de insônia. Porque eu sou essa tempestade toda. Quero sem precisar, com precisão de marinheiro. E quando não, deixo ir. Desnecessário segurar o que não fica com os dois pés, por vontade, por querer. Só gosto do que fica de propósito, não acredito em coincidência, detesto comodismo.
Por isso confusa não é palavra que me descreve, mas que agregam à mim. E já dizia antes que uma mulher insegura não pensa duas vezes, ela segue com a vida, porque de inseguro já basta ter que viver. Eu tô seguindo, não paro por orgulho ou por dignidade. Não paro, na verdade, porque sei que é insistir no erro. Não sei porque não paro, mas não paro.
Comigo ou você vem e fica, ou nem se aproxima. Não sou menina de andar na corda bamba, não sou mulher de esperar ligação. Não sou boneca de pano e minha decisão é uma só. Esse negócio de ficar cheia de dúvidas não é pra mim, resolvo logo e trato de retomar meu rumo. Porque não sou de meios sentimentos.
Eu olho numa direção só meu bem, ando firme com quem anda firme comigo. Não desvio minha atenção por nenhum braço sarado que passe, nenhum perfume mais gostoso. Não gasto atenção olhando para os lados se o que escolhi está na minha frente. Então não aceito que façam isso comigo.
Meu passo é do tamanho da minha perna, nem um centímetro a mais. E não vou aceitar nada menos do que eu mesma estou disposta a dar, nada menos eu aceito, nada mais eu exijo. Sou exagero, lembra? Então não me venha com pouquísses, porque não aguento mais sobras de amor, de saudade, amizade e de atenção. De restos eu já estou cheia."